Construindo confiança no relacionamento: bases e manutenção
Como construir, manter e reconstruir confiança em relacionamentos, compreendendo seus fundamentos e práticas essenciais para intimidade saudável.
Vitor Hugo Bordini
Psicólogo Clínico - CRP 14/10429
Confiança é o fundamento sobre o qual relacionamentos íntimos saudáveis são construídos. Sem ela, não há verdadeira intimidade, vulnerabilidade ou segurança. Com ela, há espaço para crescimento, autenticidade e conexão profunda. No entanto, confiança pode ser uma das dimensões mais desafiadoras de relacionamentos — difícil de construir, fácil de quebrar, e extremamente trabalhosa de reconstruir.
A questão da confiança se torna ainda mais complexa porque cada pessoa traz para o relacionamento as experiências passadas de traição, padrões familiares, feridas emocionais que afetam profundamente sua capacidade de confiar.
O que é confiança em relacionamentos?
Confiança em relacionamentos íntimos envolve múltiplas dimensões:
Confiança em integridade
Acreditar que o parceiro é honesto, que suas palavras correspondem a suas ações, que ele faz o que diz que vai fazer.
Confiança em fidelidade
Acreditar que o parceiro honrará compromissos de exclusividade (sexual, emocional, ou ambas, dependendo dos acordos do casal).
Confiança em confiabilidade
Acreditar que você pode contar com o parceiro nos momentos importantes, que ele estará presente quando você precisar.
Confiança em segurança emocional
Acreditar que você pode ser vulnerável com o parceiro sem ser machucado, julgado ou rejeitado.
Confiança em intenção positiva
Acreditar que o parceiro tem suas melhores intenções em mente, mesmo quando comete erros ou há mal-entendidos.
Como a confiança se desenvolve
Confiança não é algo que simplesmente existe ou não existe — é construída gradualmente através de experiências repetidas ao longo do tempo.
Pequenas ações consistentes
Confiança se constrói através de centenas de pequenas ações:
- Fazer o que disse que faria
- Chegar no horário combinado
- Responder mensagens em tempo razoável
- Lembrar de coisas importantes para você
- Seguir através de compromissos
- Ser transparente sobre sua vida
Cada pequena promessa cumprida deposita na conta bancária da confiança. Cada promessa quebrada faz um saque.
Vulnerabilidade correspondida
Quando você se arrisca a ser vulnerável (compartilhar medo, insegurança, vergonha) e o parceiro responde com empatia e cuidado ao invés de julgamento ou rejeição, a confiança se aprofunda.
Quando você vê o parceiro sendo vulnerável com você e honra essa vulnerabilidade, ele aprende a confiar em você.
Navegação bem-sucedida de conflitos
Curiosamente, conflitos bem resolvidos constroem confiança. Quando você e o parceiro conseguem atravessar desentendimento e emergir ainda conectados, ainda respeitosos, ainda comprometidos — você aprende que o relacionamento pode suportar turbulência.
Tempo e experiência acumulada
Confiança profunda simplesmente requer tempo. Você precisa ver o parceiro em múltiplos contextos, sob diferentes estresses, em vários humores, para desenvolver confiança robusta de que conhece quem ele realmente é.
Obstáculos à confiança
Experiências passadas de traição
Ter sido traído em relacionamentos anteriores cria hipervigilância em relacionamentos futuros. Você pode projetar medos baseados em experiências passadas no parceiro atual, que não fez nada para merecê-los.
Apego inseguro
Padrões de apego desenvolvidos na infância afetam profundamente capacidade de confiar:
Apego ansioso: Medo crônico de abandono, necessidade constante de reasseguramento, interpretação de sinais neutros como ameaças.
Apego evitativo: Dificuldade de se permitir depender de alguém, manutenção de distância emocional como proteção.
Apego desorganizado: Desejo simultâneo e medo de proximidade, oscilação entre buscar conexão e se proteger.
Mentiras e quebras de confiança no relacionamento atual
Quando há histórico de mentiras (mesmo sobre coisas "pequenas"), infidelidade, ou promessas não cumpridas no relacionamento atual, reconstruir confiança é desafio significativo.
Falta de transparência
Comportamento secretivo — mesmo sem motivos nefastos — cria suspeita. Proteger privacidade de forma que parece esconder algo corrói confiança.
Inconsistência
Quando o comportamento do parceiro é imprevisível — carinhoso um dia, distante no próximo, sem razão aparente — torna-se difícil confiar em estabilidade do relacionamento.
Violação de limites
Quando limites são repetidamente desrespeitados, você aprende que não pode confiar que o parceiro honrará suas necessidades.
Comunicação falha
Quando há falta de comunicação aberta, suposições não verificadas se acumulam, criando distância e desconfiança.
Práticas que constroem confiança
Seja consistentemente confiável
Faça o que diz que vai fazer: Se você diz que vai ligar às 20h, ligue às 20h. Se algo impede, comunique proativamente.
Cumpra compromissos: Grandes e pequenos. Desde lembrar de comprar o que pediu no mercado até estar presente nos momentos importantes.
Seja pontual: Respeitar o tempo do outro é forma de demonstrar que você o valoriza.
Pratique transparência voluntária
Compartilhe sua vida: Não porque é obrigado, mas porque quer incluir o parceiro. Conte sobre seu dia, seus sentimentos, suas preocupações.
Seja proativo em comunicação: Se algo pode gerar insegurança razoável, comunique antes de ser perguntado. "Vou jantar com Ana (colega de trabalho) hoje" ao invés de esperar o parceiro descobrir ou perguntar.
Admita erros rapidamente: Quando você erra, admita ao invés de esconder ou mentir. Isso constrói confiança em sua integridade.
Honre vulnerabilidade
Responda com empatia: Quando o parceiro compartilha medo, insegurança ou vergonha, responda com cuidado e validação, não julgamento.
Não use vulnerabilidade como arma: Nunca use algo que o parceiro compartilhou em confiança contra ele em brigas ou para humilhá-lo.
Seja vulnerável também: Relacionamentos onde apenas um lado é vulnerável ficam desequilibrados. Compartilhe suas próprias inseguranças e medos.
Mantenha acordos explícitos
Esclareça expectativas: Não assuma que vocês têm os mesmos entendimentos sobre fidelidade, privacidade, comunicação. Conversem explicitamente.
Honre acordos: Se vocês estabeleceram regras (sobre comunicação, exclusividade, tempo juntos), siga consistentemente, entretanto...
Renegocie quando necessário: Se um acordo não está funcionando, converse para ajustar — não simplesmente o viole.
Demonstre confiabilidade emocional
Esteja presente nos momentos difíceis: Quando o parceiro está passando por crise, esteja lá — não apenas fisicamente, mas emocionalmente disponível.
Seja consistente em apoio: Não apenas nos momentos dramáticos, mas nas frustrações diárias, no cansaço, nas pequenas vitórias.
Valide sentimentos: Mesmo quando você não concorda com a interpretação do parceiro de uma situação, valide que os sentimentos dele são reais.
Pratique perdão e deixe ir ressentimentos
Guardar rancor por cada pequena falha impede construção de confiança. Pratique perdoar genuinamente erros menores e seguir em frente.
Isso não significa tolerar comportamentos prejudiciais repetidos, mas significa não usar cada erro passado como munição em conflitos futuros.
Desenvolva habilidades de resolução de conflitos
Discussões justas: Sem ataques pessoais, desprezo, ou comportamentos destrutivos.
Reparo após conflitos: Não apenas "esqueça" brigas — reconecte-se intencionalmente após desentendimentos.
Reconheça sua parte: Em conflitos, reconheça sua contribuição ao invés de apenas culpar o parceiro.
Reconstruindo confiança após quebra
Quando houve traição, mentira significativa, ou quebra séria de confiança, reconstruir é possível mas requer trabalho intenso de ambos os parceiros.
Para quem quebrou a confiança
Assuma responsabilidade completa: Sem minimizar, justificar ou culpar o parceiro. "Eu escolhi fazer isso e foi errado" ao invés de "Você me levou a fazer isso".
Termine completamente o comportamento: Se houve caso, encerre todo contato com a outra pessoa. Se houve mentiras, comprometa-se com honestidade total daqui em diante.
Seja radicalmente transparente: Por período determinado, pode ser necessário abrir acesso total a dispositivos, contas, agenda. Isso deve ser temporário mas é frequentemente necessário inicialmente.
Tolere emoções do parceiro: Raiva, dor, questionamento repetido — mesmo que seja desconfortável, você precisa testemunhar e validar o sofrimento que causou.
Seja paciente: Reconstrução leva tempo — frequentemente muito mais do que você gostaria. Não pressione o parceiro a "superar logo".
Busque ajuda profissional: Tanto terapia individual (para entender por que você fez o que fez) quanto terapia de casal.
Para quem foi traído
Permita-se sentir: Raiva, dor, confusão — todos são válidos. Não tente acelerar artificialmente o processo de cura.
Decida se quer tentar reconstruir: Não há obrigação de continuar o relacionamento. Se você decidir tentar, comprometa-se genuinamente. Se decidir terminar, isso também é válido.
Comunique necessidades: O que você precisa para começar a confiar novamente? Seja específico.
Evite vigilância permanente: Checar compulsivamente é compreensível inicialmente, mas não pode se tornar padrão permanente. Gradualmente, você precisa escolher confiar ou terminar.
Trabalhe suas feridas: Terapia individual pode ajudá-lo a processar o trauma e decidir o que fazer.
Para o casal
Terapia de casal: A maioria dos casais que reconstrói confiança após traição o faz com ajuda profissional.
Identifiquem vulnerabilidades: O que no relacionamento criou abertura para a quebra de confiança? (Isso não justifica a traição, mas ajuda a prevenir futuras).
Reconstruam intimidade: Começando com intimidade emocional antes de sexual, se houver dificuldades nessa área.
Criem novos padrões: Não podem simplesmente voltar ao "normal" — precisam criar novo normal mais saudável.
Quando desconfianças são válidas vs quando são projeções
Como diferenciar entre intuição válida e insegurança interna projetada?
Desconfiança baseada em realidade tende a:
- Surgir em resposta a comportamentos específicos e verificáveis
- Ter evidências concretas (mesmo que sutis)
- Ser confirmada por mudanças no comportamento do parceiro
- Ser validada por observadores externos neutros
- Ser proporcional às situações
Desconfiança baseada em insegurança interna tende a:
- Ser constante independentemente do comportamento do parceiro
- Não ter evidências concretas
- Persistir mesmo quando parceiro faz mudanças razoáveis
- Ser desproporcional às situações
- Criar interpretações extremas de eventos neutros
Se você genuinamente não sabe qual é seu caso, terapia individual pode ajudar a clarificar.
Como a Gestalt-terapia trabalha com questões de confiança
A Gestalt-terapia compreende confiança como capacidade de contato genuíno — permitir-se ser visto e ver o outro autenticamente, sem máscaras defensivas. A falta de confiança é frequentemente proteção contra vulnerabilidade.
O trabalho foca em desenvolver awareness sobre origens da dificuldade de confiar. Você está revivendo dinâmicas de relacionamentos passados? Está projetando medos não relacionados ao parceiro atual? Ou está respondendo a sinais reais no relacionamento presente?
A Gestalt trabalha com fronteiras de contato — capacidade de estar próximo sem se fundir (confluência) ou se distanciar completamente (isolamento). Confiança saudável permite proximidade enquanto mantém senso de self separado.
O conceito de negócios inacabados é relevante — experiências não resolvidas de traição ou abandono em relacionamentos anteriores (incluindo com cuidadores na infância) criam padrões que interferem na capacidade de confiar em relacionamentos presentes. Completar esses ciclos permite maior abertura no presente.
Através do foco no aqui-agora, a terapia ajuda a diferenciar entre passado (que você está revivendo) e presente (realidade atual do relacionamento). Seu parceiro atual não é seu pai que te abandonou ou ex que te traiu — ele é pessoa diferente em contexto diferente.
Confiança e autonomia
É importante reconhecer que confiança saudável não significa dependência total ou fusão completa:
Confiança saudável inclui:
- Acreditar no compromisso e integridade do parceiro
- Sentir-se seguro para ser vulnerável
- Contar com parceiro nos momentos importantes
Confiança saudável NÃO significa:
- Saber exatamente onde o parceiro está a cada momento
- Ter acesso irrestrito a todos os aspectos da vida do parceiro
- Nunca sentir incerteza ou insegurança
- Eliminar completamente a possibilidade de ser magoado
Relacionamentos sempre envolvem certo grau de risco e incerteza. Parte da confiança madura é tolerar essa incerteza ao invés de tentar eliminá-la através de controle total.
Sinais de que a confiança está crescendo
Como saber se vocês estão construindo confiança saudável?
- Você se sente cada vez mais confortável sendo vulnerável
- Há menos necessidade de vigilância ou verificação
- Conflitos são resolvidos de forma que fortalecem ao invés de corroer a relação
- Você consegue dar ao parceiro liberdade sem ansiedade paralisante
- Há comunicação aberta sobre inseguranças quando surgem
- Pequenos erros são perdoados sem guardar rancor
- Você se sente seguro de que o parceiro tem suas melhores intenções
- Há espaço para autonomia individual dentro do relacionamento
Quando falta de confiança indica problema no relacionamento
Às vezes, dificuldade crônica de confiar indica que há problemas reais no relacionamento:
- Quando comportamento do parceiro é consistentemente não-confiável
- Quando há padrão de mentiras, mesmo sobre coisas pequenas
- Quando já houve traições e não houve trabalho real de reconstrução
- Quando parceiro desrespeita consistentemente limites
- Quando você se sente constantemente invalidado ou manipulado
Nestes casos, o problema não é sua "insegurança", mas questões legítimas no relacionamento que precisam ser endereçadas — ou reconhecimento de que o relacionamento talvez não seja saudável.
Terapia de casal e individual na Figura & Fundo
Na Figura & Fundo, trabalhamos com casais que estão construindo, mantendo ou reconstruindo confiança, assim como com pessoas que lutam com dificuldades de confiar baseadas em experiências passadas.
Para questões de confiança no relacionamento atual, a terapia de casal pode ajudar a identificar padrões que corroem confiança e desenvolver práticas que a fortalecem. Para questões de confiança baseadas em experiências passadas ou padrões de apego, terapia individual pode ser mais apropriada.
Trabalhamos com a abordagem da Gestalt-terapia, que foca em desenvolver awareness, fortalecer fronteiras pessoais, e cultivar capacidade de contato genuíno. O objetivo é desenvolver confiança baseada em realidade presente, não em medos passados ou necessidade de controle.
A psicoterapia online oferece flexibilidade e conforto para trabalhar essas questões delicadas. Trabalhamos com valores fixos e transparentes.
Considerações finais
Confiança é fundamento de intimidade genuína. Sem ela, relacionamentos permanecem superficiais, defensivos, e inseguros. Com ela, há espaço para vulnerabilidade, crescimento e conexão profunda.
Construir confiança requer tempo, consistência e trabalho intencional de ambos os parceiros. Reconstruí-la após quebra é ainda mais trabalhoso, mas possível quando há compromisso genuíno de ambos os lados.
Se vocês estão lutando com questões de confiança — seja construindo pela primeira vez, reconstruindo após quebra, ou lidando com dificuldades baseadas em experiências passadas — buscar ajuda profissional pode fazer diferença significativa.
Pronto para trabalhar questões de confiança no seu relacionamento? Entre em contato e vamos conversar sobre como podemos ajudar vocês nessa jornada.
Este artigo tem caráter informativo e educacional. As informações apresentadas não substituem avaliação profissional individualizada. Se você enfrenta dificuldades significativas de confiança, procure um psicólogo para avaliação adequada.

Vitor Hugo Bordini
Psicólogo Clínico - CRP 14/10429
Especializado em Gestalt-terapia, oferece atendimento humanizado e personalizado para adultos e idosos.
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